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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Ativistas LGBT processam pastores após campanha “Não se metam com nossos Filhos”



























Não é só no Brasil que os cristãos conservadores fazem campanhas defendendo as crianças da ideologia de gênero. Pastores evangélicos do Equador estão enfrentando processos jurídicos após reunirem cerca de um milhão e meio de pessoas, em protestos por todo o país em 14 de outubro.

O tema da campanha nacional era #Conmishijosnotemetas, ou #NãoSeMetamComNossosFilhos em tradução livre. Contrariados, ativistas LGBT entraram com um processo, acusando os promotores do movimento de discurso de ódio e homofobia.

Por causa disso, todos os líderes cristãos, ou seus representantes legais, tiveram que comparecer perante o Tribunal de Garantias Criminais da capital Quito. Eles reafirmaram seu apoio à ideia de que, na perspectiva cristã, o casamento só existe quando é entre homem e mulher e que os pais têm o direito de escolher os valores que passarão aos seus filhos.

“A defesa da família não deve ofender ninguém. O respeito deve ser mútuo. Não só do nosso lado, mas de ambos os lados”, disse Stuart Lopez, um dos pastores evangélicos denunciados. Nas marchas realizadas em diversas cidades do Equador, católicos e evangélicos se uniram para defender a família tradicional.
 
Nenhum dos juízes viu indícios concretos de prejuízo aos homoafetivos equatorianos e encerraram o caso por falta de provas.

A briga judicial começou no dia da marcha, quando um grupo LGTB solicitou medidas cautelares para proibir a manifestação, mas sem sucesso. Contrariados, alguns desses ativistas foram ao local da marcha e começaram a insultar e atacar verbalmente todos os pastores presentes.

A reclamação é que o protesto dos evangélicos criava um ambiente hostil para a existência dos homossexuais. Cayetana Salao, uma das líderes do protesto LGBT, reclamou dos juízes e tentou lançar uma campanha chamada #ElOdioMata, mas que não obteve muita repercussão. Com informações de Protestante Digital e El Comercio .

domingo, 22 de outubro de 2017

As ex-testemunhas de Jeová rejeitadas pelas próprias famílias

Para algumas ex-testemunhas de Jeová do Reino Unido, abandonar a crença não significa apenas abrir mão de uma religião, mas também se afastar de entes queridos. Em muitos casos, amigos e familiares são orientados a cortar todos os laços com essas pessoas, as levando ao isolamento e, em casos extremos, até a pensamentos suicidas.
     Grupo religioso diz que a Bíblia recomenda: 'Removam os homens perversos entre vocês'

"Não falo com ninguém da minha família. Não temos nenhum contacto, porque eu me 'desassociei'", conta Sarah (nome fictício) ao programa Victoria Derbyshire, da BBC.
No ano passado, a jovem, que está na casa dos 20 anos, foi expulsa de um grupo de Testemunhas de Jeová em um processo conhecido como "desassociação".
Ela diz que o motivo teria sido sua recusa em continuar em um relacionamento abusivo. Sarah afirma que seu parceiro na época era violento e chegou a quebrar suas costelas.
Fazer denúncias à polícia - e envolver pessoas de fora da religião em questões como essa - é algo desencorajado entre testemunhas de Jeová, explica a jovem.

Código moral

Sarah afirma que os anciãos da religião se recusaram a punir seu ex-companheiro pelo comportamento violento. Foi apenas quando seus colegas de trabalho notaram seus machucados e a convenceram a não se submeter mais aos abusos que ela deu fim ao relacionamento.
A jovem conta ter sido desassociada por esse motivo - e diz que seus amigos e familiares se afastaram em seguida. Isso porque testemunhas de Jeová acreditam que aqueles de fora da religião podem prejudicar sua fé.
Em um comunicado, o grupo religioso disse à BBC que "se uma testemunha batizada viola o código moral da Bíblia e não apresenta evidências de que não continua a fazer isso, ela ou ele serão afastados e desassociados".
"Quando se trata desse afastamento, as testemunhas seguem as instruções da Bíblia, e, neste ponto, a Bíblia diz claramente: 'Removam os homens perversos entre vocês'", afirma o texto.
Ailton Pereira, membro da Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e porta-voz da Testemunhas de Jeová no Brasil, diz que, quanto à orientação de que familiares e amigos se afastem de pessoas desassociadas, a Bíblia determina na passagem 1 Coríntios 5:11/13 ser necessário cortar o relacionamento com alguém eu mantenha uma conduta inadequada. "Seguimos os ensinamentos sagrados", afirma Pereira.
"Se a pessoa toma um caminho errado de acordo com o que é dito pelas escrituras, ela é afastada, mas as pessoas têm liberdade para tomar sua própria decisão de como proceder. É um assunto de ordem familiar."
Pereira diz que, mesmo quando uma pessoa se afasta voluntariamente da religião, "os laços permanecem". "É uma decisão pessoal. Deus não obriga ninguém a servir. Oferecemos ajuda para que a pessoa reflita sobre sua decisão, mas isso não rompe o vínculo família nem faz um menor de idade ser expulso de casa."
Mas, diante de um comportamento considerado inapropriado, muitas vezes o afastamento ocorre para que "outros membros da família não sejam influenciados e a família seja preservada".
"O afastamento ocorre porque uma pessoa tomou o caminho. Se alguém está em um relacionamento imoral, é justo que o chefe de família proíba a pessoa de trazer seu companheiro para dentro de casa", explica Pereira.
Ele ressalta que a organização religiosa Testemunhas de Jeová se baseia nas escrituras sagradas em seu trabalho para manter as famílias unidas.
"Muitas vezes, quando chegamos a uma casa em que a família está se separando por um vício ou comportamento, mas aí a pessoa entende os princípios da Bíblia, e a família volta a ter paz."

'Ninguém responde'

Sarah diz que sua mãe se recusou a falar com ela na noite em que foi desassociada. E que seu pai a acordou bem cedo no dia seguinte para expulsá-la de casa.
Em resposta aos relatos, a organização Testemunhas de Jeová diz não comentar sobre casos individuais e afirma que "violência, seja física ou emocional, é fortemente condenada na Bíblia e não tem lugar em uma família cristã".

Sarah e John (de costas) disseram no programa Victoria Derbyshire que foram isolados por seus familiares e amigos

John (nome fictício) tornou-se testemunha de Jeová ainda criança, quando seus pais decidiram se unir ao grupo. Há dois anos, ele foi desassociado depois de perder um velório, cerimônia vista na religião como uma ocasião importante.
Ele já tinha começado a se questionar sobre os ensinamentos - incluindo as ideias de que o fim do mundo é iminente e de que apenas 144 mil pessoas vão para o céu. Sua visão sobre a fé também ficou abalada após um amigo morrer depois de não ser submetido a uma transfusão de sangue, uma prática proibida pela religião. "Foi uma vida desperdiçada", diz.
John afirma ter descoberto depois que sua mulher testemunhou contra ele em seu processo de desassociação, algo que acredita ter prejudicado bastante o relacionamento do casal.
Ele saiu da casa e passou a viver temporariamente em barracas de camping. Além disso, perdeu contato com seus dois filhos, hoje adultos, e irmãos. "Eu me senti muito isolado, não tinha ninguém, pensava bastante em suicídio."
"Às vezes, eu mando uma mensagem dizendo 'amo vocês, ainda penso em vocês', mas, normalmente, ninguém responde."

'Últimos dias'

A religião Testemunhas de Jeová foi fundada nos Estados Unidos no fim do século 19, sob o comando de Charles Taze Russell, e é sediada em Nova York.
Apesar de ser baseada em princípios cristãos, o grupo acredita que as igrejas cristãs tradicionais se afastaram dos ensinamentos bíblicos e não estão em harmonia com Deus.
Por sua vez, as igrejas cristãs tradicionais não reconhecem o grupo Testemunhas de Jeová como uma denominação tradicional de sua fé por rejeitar a doutrina baseada na Santa Trindade.
As testemunhas de Jeová acreditam que a humanidade está vivendo seus "últimos dias" e que a batalha final entre o bem e o mal ocorrerá em breve. A organização diz ter mais de 8 milhões de fiéis em todo o mundo.
Terri O'Sullivan a abandonou há 17 anos, quando tinha 21, e foi expulsa de casa por sua mãe. Ela coordena hoje uma rede de apoio a pessoas que são excluídas ou deixam de fazer parte da igreja.
Afirma que ainda não se deparou com uma ex-testemunha de Jeová que não tenha sofrido de depressão ou alcoolismo ou tenha pensado em suicídio ou machucar a si mesma.

Órfã de pais vivos

Terri O'Sullivan foi expulsa de casa por sua mãe após abandonar o grupo

Segundo Terry, apesar de nem todos passarem formalmente pelo processo de desassociação quando abandonam a religião, seus relacionamentos raramente não são afetados por isso.

"No caso de algumas ex-testemunhas, alguns familiares ainda falam com elas, mas a relação dificilmente é a mesma", diz.
No caso de Sarah, ela diz ter sido "muito, muito difícil" lidar com a perda dos laços familiares. Ela está noiva e sabe que terá de planejar uma cerimônia de casamento sem a participação de seus pais. "Eu me considero órfã, o que é bem triste", afirma.
Ela obtém apoio de amigos no trabalho. Quando abandonou a religião, eles "a confortaram" - o que a surpreendeu.
"São pessoas que minha religião dizia serem terríveis e más companhias, que seriam castigadas por Deus no Apocalipse. Mas essas pessoas abriram as portas de suas casas para mim."
A jovem ainda vê com bons olhos a maioria dos fiéis da igreja. "Há boas pessoas nessa religião, que acreditam estar salvando outras. Guardo boas memórias, porque são as últimas que tenho com minha família", diz.
"Mas também olho para trás e é dolorido, porque nunca mais poderei sentar com eles para um almoço de domingo. Quando morrerem, eu não serei convidada para seus enterros."
*Esta reportagem foi atualizada às 11h do dia 01 de agosto de 2017, para incluir as declarações do porta-voz das Testemunhas de Jeová no Brasil.

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40780269