Erdogan é anunciado como “líder supremo” do mundo muçulmano.
A maior parte da imprensa brasileira não deu uma cobertura coerente
dos fatos na Turquia, noticiando os acontecimentos como uma tentativa de
minar a democracia, quando foi exatamente o contrário. Existem vários
vídeos que mostram a maior parte da população comemorando a saída do
presidente Recep Tayyip Erdogan. Muitos dos soldados acusados de tentar o
fracassado “golpe” declararam posteriormente que pensavam estar participando de um exercício militar.
Após a tentativa de intervenção não ter dado certo, Erdogan está com
mais poder ainda. Especialistas acreditam que ele permitiu o levante
militar e por isso estava “estrategicamente” fora do país quando tudo
aconteceu.
Após as tensões se acalmarem, ele voltou ao país e uma de suas
primeiras declarações foi: “Este levante, este movimento é um grande
presente de Alá para nós. Porque o Exército será limpo”. A associação
religiosa não é algo menor.
O conflito dos últimos dias tem a ver com a tentativa de islamizar o
país, feitas pelo grupo radical de Erdogan. Um dos motivos para a
tentativa de derrubar o presidente é sua relação com os terroristas do
Estado Islâmico. Existem provas que a Turquia comprou petróleo deles e
os ajudou a se armar contra o governo de Bashar Al Assad.
Uma de suas primeiras atitudes após retomar o poder foi prender quase três mil militares e afastar 2745 juízes.
A tendência agora é que a Turquia implante em definitivo as leis
islâmicas da sharia, como defende o AKP (Partido da Justiça e
Desenvolvimento), ao qual ele pertence. O embaixador Roberto Abdenur,
membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri), entende que o desfecho desta crise não será
positivo.
As facções do exército que se levantaram são lideranças laicas, que
denunciavam a progressiva islamização das Forças Armadas turcas. Ao
mesmo tempo, era das mesquitas que se ouvia a exortação para que o povo
fosse para as ruas e apoiassem o presidente.
Nomeação como novo “califa”
Existe a ideia de se retomar o califado – liderança política e
religiosa dos muçulmanos. Em árabe, califa significa ‘sucessão’ e remete
a um sistema de governo implantado depois da morte do profeta Maomé, em
632.
Logo, o califa é literalmente o sucessor do profeta e chefe da
comunidade mundial dos muçulmanos. Ele tem o poder de aplicar a lei
islâmica (sharia) nas terras controladas pelo Islã. Após os
representantes das comunidades muçulmanas o designaram, o povo deve
jurar-lhe lealdade.
Agora, o sheik Yusuf Qaradawi, líder da Federação Mundial dos Sábios
Muçulmanos, que representa os muçulmanos sunitas, maior ramo do
islamismo, anunciou que jura fidelidade a Erdogan, de acordo com o Shoebat.
Numa carta aberta, ele declara: “Alá está com você e todo o meio
árabe e as nações muçulmanas estão com você… Nós, todos os sábios
muçulmanos, dos quatro cantos do globo, estamos com você. O anjo Gabriel
e o Justo [Ali, o primeiro Califa] estão com você. Após isso, todos os
anjos serão revelados… Lidere a Turquia como você deseja e como nós
desejamos… nós estaremos com você dando-o força e nós o apoiaremos o seu
partido e os seus partidários como Alá nos instruiu”.
Este ano, Istambul hospedou o encontro de mais de 30 líderes de
nações islâmicas e representantes de outros 56 países. A reunião da
Organização de Cooperação Islâmica (OCI) tinha como objetivo “superar as
diferenças” e “unir a fé” dos um bilhão e meio de muçulmanos.
Ao abriu o encontro, o presidente turco fez um discurso abordando a
necessidade de proximidade dos que professam a fé no Alcorão.
Em 2006, os Estados Unidos já possuíam relatórios detalhados
sobre um plano para radicalização das forças islâmicas que visavam a
restauração do califado mundial. Ao divulgar isso, o ex-presidente Bush
foi ridicularizado pela imprensa.
No final do ano passado, a ideia de proclamação de Erdogan como novo califa era amplamente difundida. O grande empecilho parecia ser a existência de um outro califado, proclamado em 2014 pelo Estado Islâmico. Contudo, com suas frequentes derrotas, o grupo tende a perder seu poder em breve.
Seu líder máximo, Abu Bakr al-Bagdadi, não é visto em público há
meses e existem rumores que já foi morto em um ataque de drones. Na
Turquia, em alguns lugares o presidente Erdgan já é chamado de “o mensageiro de Deus”, título que é reservado para Maomé.
A volta do Império Otomano?
Quem conhece a realidade do país sabe que Erdogan, que está no poder
desde 2003, possui atitudes típicas de um ditador. A imprensa vive sob
censura. Os oponentes políticos são constantemente perseguidos.
Depois de 12 anos como premiê, Erdogan foi eleito presidente em 2014.
Desde então procura mudar a Constituição para dar a ele poderes de
chefe de governo e continuar como homem forte da Turquia. O dirigente
turco já sinalizou várias vezes que seu objetivo é restaurar o Império
Otomano, que durou 400 anos (1517-1917). O termo “neo-Otamanismo” já
existe e é usado com frequência por analisas internacionais.
Com a mistura de religião islâmica nas decisões políticas, a Turquia
não tem vergonha de mostrar ao mundo sua face mais radical. Dois anos
atrás, hospedou o que foi chamado por especialistas em profecias bíblicas de “Confederação do Anticristo”.
O sheik Yusuf al-Qaradawi, presidente da União Internacional de Sábios
Muçulmanos, que representa o maior grupo de estudiosos muçulmanos em
todo o mundo, anunciou: “Diferentemente de como era no passado, o
califado dos dias de hoje deve ser estabelecido através de uma série de
Estados, governados pela sharia, e apoiado por autoridades e o povo na
forma de uma federação ou confederação”.
As forças armadas da Turquia reúnem 510 mil soldados, o segundo maior
exército da OTAN, atrás apenas dos Estados Unidos. São consideradas uma
das mais bem treinadas do mundo, segundo o relatório mais recente do
Instituto Mundial de Reflexão Estratégica IISS.
Estudantes das profecias geralmente apontam a Turquia como o centro da união de nações
que se unirá contra Israel na guerra de Gogue e Magogue. Desde que
assumiu o poder, Erdogan tem mantido relações próximas com Rússia e Irã,
países que também representam ameaças ao Israel moderno. Uma das
promessas recentes de Erdogan e do o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu é
justamente retomar Jerusalém.
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